Medo, insegurança, desconfiança, solidão... Esses são alguns dos sentimentos que assolam o dia a dia de algumas pessoas nos últimos tempos. A grande maioria da população brasileira vive receosa de ser a próxima vitima nas mãos de “marginais covardes” que invadem seu mundo e lhe rouba a vida ou o que com tanto esforço (as vezes não muito) adquiriram. Quando BAUMAN questiona:
“Que computador foi danificado pelo sinistro ‘bug do milênio’? Quantas pessoas você conhece que foram vítimas dos ácaros de tapete? Quantos amigos seus morreram da doença da vaca louca? Quantos conhecidos ficaram doentes ou inválidos por causa de alimentos genericamente modificados? Qual de seus vizinhos e conhecidos foi atacado e mutilado pelas traiçoeiras e sinistras pessoas em busca de asilo? (BAUMAN, 2008: 17)
Fica uma incógnita, por que então, se não temos experiências particulares com relação ao que tememos, a tememos tanto? Como é que esses medos invadem nosso particular e chega a nos imobilizar muitas vezes?
A utilização do aparelho ideológico como forma de disseminar a manifestações da violência e de imbuir nos cidadão a ideia de defesa à qualquer preço, se manifesta de forma clara através da mídia.
A televisão, o rádio e o jornal, são meios de comunicação que são de fácil aceitação pela população, e veiculam de maneira indiscriminada, se utilizando destas notícias para beneficiar ainda mais a ordem vigente do capital. Com a proliferação do medo das ações violentas a indústria da segurança aumenta o aparato.
Um tema tão complexo e ao mesmo tempo delicado como a violência vem tomando cada vez mais espaços em discussões, seja nas academias, na mídia e em simples rodas de conversas. Entretanto este tema gera inúmeras polêmicas em qualquer espaço onde é discutido.
A violência urbana, contra o patrimônio e contra à vida ganha um maior destaque nos debates, em especial na mídia a qual muitas vezes o explora em busca excessiva por audiência. Não precisamos fazer uma busca mais apurada para percebermos isso, basta ligarmos os televisores e contarmos o número de jornais que abordam o tema.
No artigo “MÍDIA E VIOLÊNCIA: O papel da imprensa na segurança pública” publica no site do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, SOUZA diz que a mídia ao se apropriar da violência, muitas vezes “espetaculaza-a”, dando enfoque a casos muitas vezes até isolados, tornando-os como corriqueiros, podendo até mesmo induzir às práticas de violência.
No mesmo artigo o autor também cita a mídia quando pontua alguns fatores responsáveis pelos atuais índices de violência.
“Apresentamos, a título de ilustração, uma síntese da complexa teia de fatores intervenientes no fenômeno da violência e criminalidade. Para tanto, usamos o modelo proposto pelo cientista francês Jean-Claude Chesnais, conceituado demógrafo e especialista em violência urbana. Ele traçou um estudo sobre a violência criminal no Brasil, apontando seis causas como fatores responsáveis pela atual situação: Fatores socioeconômicos: miséria, agravamento das desigualdades, herança da hiperinflação; Fatores institucionais: insuficiência e incompetência do Estado, crise do modelo familiar, recuo do poder da Igreja; Fatores culturais: problemas de integração racial e desordem moral; Demografia urbana: as gerações provenientes do período da explosão da taxa de natalidade no Brasil chegando à vida adulta sem muitas referências éticas; e o surgimento de metrópoles, sem a mínima infraestrutura, que receberem uma fortíssima migração nas últimas décadas; A mídia, com seu poder, que colabora para a apologia da violência. A globalização mundial, com a contestação da noção de fronteiras; e o crime organizado (narcotráfico, posse e uso de armas de fogo etc.). Acrescentaria outro fator, característico e específico das grandes cidades brasileiras. A organização do tráfico de drogas (disputas pela ampliação de espaço e poder, guerra entre gangues) e suas conexões com outras modalidades de crimes (contrabando, lavagem de dinheiro, corrupção de agentes públicos etc.)”. (SOUZA, 2008)
Esse mesmo artigo também cita algumas estatísticas a respeito de uma pesquisa realizada sobre a abordagem do tema violências em alguns dos maiores jornais veiculados. Foi percebido que houve uma redução nos números de espaços dedicados à temática, ficando a mesma na maioria dos casos como apenas notícias, sem um aprofundamento, uma contextualização.
“O espaço que os veículos analisados dedicaram a textos opinativos sobre estes temas foi muito reduzido: durante o período da pesquisa, houve pouquíssimos editoriais (1,4%), artigos (1,2%) e colunas (0,3%) sobre o tema. Mais de um quarto (27%) da cobertura é composta de pequenas notas informativas, sem qualquer tipo de contextualização".(SOUZA, 2008)
Não é preciso fazer uma pesquisa tão profunda quanto a citada pelo autor para se notar que mesmo quase quatro anos após a publicação deste artigo, o espaço reservado às noticias sobre violência continuam quase que os mesmos. Não se vê um aprofundamento, uma discussão pelo contrário, somente se coloca a reportagem, e em alguns casos se coloca também comentários de especialistas, porém somente de acordo com a repercussão destes. Caco Barcelos em rebate realizado na TV PUC com o tema Medo, em 1997 disse que a mídia deturpa muitas vezes o cotidiano se atendo apenas ao fato, ao crime efetivado e não ao que levou o indivíduo a chegar a vias de fato.
Bibliografia:
BAUMAN. Zygmunt. Medo Líquido. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008