segunda-feira, 29 de novembro de 2010

"O homem historicamente tem procurado um saber sobre Deus baseado na teoria de outros homens e acaba não permitindo que o próprio Deus lhe revele seus mistérios..."
Maria Aparecida Gomes

Negros mortos em favelas cariocas e índios em hospitais acrianos...

   Definitivamente estamos vivendo um período de "limpeza" étnica no nosso país. No rio de Janeiro, ocorre a mais de uma semana um genocídio onde majoritariamente os mortos são negros, devido a população das comunidades serem compostas em sua maioria por negros. No Acre os índios estão , mantendo o coordenador da Funasa, José Carlos Pereira Lima em cativeiro a fim de chamarem a atenção às causas indíginas.  Em entrevista à Folha de São Paulo um dos líderes do movimento alega que estão a mais de 20 dias acampados na sede da FUNAI, exigindo uma postura do Ministério da Saúde sobre as condições de saúde indígenas, pois existem inúmeras mortes na região por falta de atendimento adequado, já que o dinheiro repassado pelo  governo federal não é corretamente aplicado.
   Gozado, o índio relata estarem acampados há mais de 20 dias e absolutamente nada é comentado na mídia, estranho não? Por ventura eles também não são brasileiros?
   O mais "interessante" é que a polícia federal foi chamada para negociar a libertação dos reféns, ou seja, mais uma vez na história desse país a pobreza está sendo tratada como caso de policia, e nada, absolutamente nada está sendo feito.
   Por ventura já não nos bastou os anos de horrores vividos na época da Ditadura Militar? Pois parece que não! Na época do golpe a desculpa era o combate aos terroristas comunistas, hoje a desculpa será os traficantes? Sim, por que pelos discursos feitos a dias pelas autoridades é que a paz está voltando a reinar graças as atitudes militares, ou seja, será mesmo que Dilma Roussef assumirá a presidencia da república ou viveremos um novo golpe militar? Tudo é possível nesse país não?

sábado, 27 de novembro de 2010

"Mais vale a sabedoria dos que vivem plenamente a vida em seus sentidos mais amplos do que os discursos dos doutorados. Pois enquanto o primeiro aprende com experiencias nos mais diversos campos, o segundo rende-se ao positivismo que limita o conhecimento a um só campo do saber..." 
Maria Aparecida Gomes - 26/11/10

Rio de Janeiro: De que lado rompe a corda?

Bom desde que o Brasil assumiu a “missão de paz” das Nações Unidas no Haiti, sempre tiver uma duvida, por que o Brasil deslocou tantos soldados para um país de tamanha pobreza? A princípio pensei que fosse para mostrar poder, pleitear uma cadeira no conselho da ONU ou mesmo imitar os EUA, que como ninguém sabe como invadir um país.
Entretanto nessa última semana, com o genocídio que está ocorrendo na cidade do Rio de Janeiro, onde com o propósito de se exterminar os traficantes, exterminam se também civis inocentes, aliais, se extermina tudo nos morros, menos o verdadeiro tráfico, é que eu tive mais clareza  sobre o que ouvi quando um estudante da Unicamp, deu-nos uma palestra sobre o terremoto que destruiu o país. Ele informou que chegou a visitar uma das bases militar brasileira no Haiti e percebeu que a presença dos soldados naquele país nada mais era do que um treinamento para os soldados brasileiros.
E realmente, alguns teóricos alegam que a presença do exército nesta guerra trava é inconstitucional tendo em vista que o exército não recebe treinamento para combates civis, mas melhor treinamento do que o recebido no Haiti eles não poderiam ter, não acham?
Quero deixar claro que não estou em defesa dos traficantes, pois tenho a clareza que milhares de jovens morrem diariamente nas mãos dos traficantes, mas minha preocupação é que os discursos apontam como se eles fossem os únicos responsáveis, como se exterminando eles o problema do tráfico estará resolvido, por favo, historinha pra boi dormir essa não?
Sabemos que o é o tráfico quem tem cumprido um papel Estatal nessas comunidades, que são simplesmente abandonadas pelo poder público, vivendo em condições de riscos eminentes de serem confundidos por bandidos e acabarem mortos pela polícia (BOPE) que chega sem se quer pedir a identificação, agindo truculentamente mesmo sem saber com quem está falando.
E a autoridade do BOPE ainda é vangloriada quando ameaça quem está no morro de que caso não se renda, será morta! Desde quando violência conserta violência?  Será que não percebem que pra eles é bem mais fácil matar, já que o sistema carcerário brasileiro é um verdadeiro deposto de gente e não restabelece ninguém ao convívio com a sociedade? Claro que é mais fácil matar do que reformular todas as políticas sociais. Claro que é mais fácil matar esses jovens agora, do que mexer na verdadeira origem do problema. Claro que é mais fácil matar do que correr o risco de nomes conhecidos e respeitáveis venham a ser denunciados como envolvidos com o tráfico? Não se esqueçam, que eles rompem a corda do lado que lhes convém...

Obs: Essa foto foi retirada do site: http://fotografia.folha.uol.com.b no dia 27/11/10

" Sábios não são os que apreendem o saber numa academia, reproduzindo teorias historicamente postas. Mas os que adquirem a sabedoria a partir de suas experiências cotidianas..." 
(Maria Aparecida Gomes)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Rio de Janeiro: Combate ao tráfico ou uma nova higienização étnica?


Nessa semana temos acompanhado por inúmeros jornais os ataques ocorridos no Rio de Janeiro diariamente, uma verdadeira guerra onde o que há é uma visível criminalização da pobreza como de costume.
Sim, o Estado está utilizando como desculpa o combate ao tráfico de drogas, quando por trás desse "combate" está implícita uma clara higienização da pobreza, já que a Copa está chegando e não podemos permitir que se tenha o número de pobres que se tem hoje. E mais lamentável do que isso é a legitimidade dada pela mídia, colocando na mente da população que todos os negros favelados são bandidos, traficantes e devem morrer!
Um verdadeiro regresso na luta contra o racismo, pois quem é negro sabe que são sempre eles os primeiros a serem revistados da forma mais truculenta possível, isso quando não acabam com uma bala na cabeça!
Não estou defendendo nenhum traficante, mas não acredito que violência se combate com mais violência e convenhamos se fosse mesmo para acabarem com o tráfico, eles não deveriam começar pelas favelas deveriam? Afinal, os responsáveis pela manutenção do tráfico estão na capital carioca ou na capital brasileira? Os maiores criminosos são os traficantes favelados ou os engravatados políticos?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Racismo, construído durante mais de 500 anos não acabará da noite pro dia?


  No dia 19/11/10, no site da Radioagência NP, Jorge Américo publicou uma reportagem de conteúdo vergonhoso para os estudantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, trata-se de uma publicação sobre um deprimente ato de racismo praticado por uma aluna do 5º ano do curso de direito da universidade já citada contra uma colega de classe.
  Conforme reportagem, a aluna Meire denunciou sua colega de classe responsável pelo enviou de e-mails extremamente ofensivos a respeito de sua condição de cor e de classe social, podendo notar isso nos trechos dos e-mails publicados como esses: “Queria te apresentar uma que só depende de vc, ela se chama: Meire, botas já!! É baseada no fato de que estamos cansados de ter que ver o seu pé grotesco!! Sério! Vc devia consultar um podólogo, tenho certeza que o SUS tem um, pq aquilo não pode ser só um joanete, com certeza é uma forma alienígena de vida que se acoplou ao seu pé!! Na boa, pela sua própria saúde, consulte um médico!” e ““Além disso, tbm acho que está na hora de vc trocar o produto que vc usa para emplastar seu cabelo, pq esse já venceu, e o cheiro.... Na boa....É insuportável!” entre outras...
  Enfim, mas o motivo dessa postagem não é falar a respeito desse caso em si, mas trazê-lo como um exemplo da deprimente condição ainda vivida por milhares de negros neste país. Claro que não tenho toda a propriedade para problematizar este assunto devido apesar de ser de origem afro ter a pela branca, portanto nunca ter sofrido pessoalmente esses atos racistas,  todavia não é porque não senti na pela que devo calar-me diante desse absurdo que assola um país que se diz democrático.
  Aliás, ninguém deve se calar, ou desviar o assunto, dizendo que com o ingresso de uma minoria negra a algumas vagas de emprego e de universidade que o racismo acabou em nosso país, pelo contrário, ele está cada dia mais presente, através dos mínimos atos cotidianos. Taís como frases dizendo que tenho um amigo negro que é muito inteligente, como se a tonalidade da pele influencia-se no QI da pessoa (até hoje a ciência não provou nada a respeito), achar que todo negro tem que gostar de pagode e querer ser jogador de  futebol, quando não é bandido perigoso, pois se coloque na seguinte situação: quando você está andando pela rua sozinha(o) e surge um negro de um lado da rua e um branco do mesmo lado que o seu, de quem você vai temer ser um assaltante?
  Não sejamos, é claro, ingênuos em pensar que o racismo acabará da noite pro dia, já que essa infeliz ideia de inferioridade do negro está embutida em nossa sociedade há mais de 500 anos, mas também não podemos cruzar os braços e achar que não podemos mudar isso, não só podemos como devemos, focando na forma com a qual educamos nossas infância e juventude, afinal são eles  o futuro que queremos para o país...
  Afinal que país queremos mesmo? Queremos igualdade racial ou respeito as diferentes raças? Eu quero o respeito pelas diferentes raças, já que igualdade pressupõe uma hegemonia, hegemonia pressupõe um padrão e como padronizar sem podar alguém? E se o que se pretende é acabar com o racismo como definir um padrão de igualdade sem ser racista com alguma raça?
 
 
Eu não me envergonho em dizer que compartilho do sonho de Luter King, que todos sejam julgados por sua personalidade e não pela cor de sua pele!!!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

OCUPAÇÃO DA REITORIA DA PUC SÃO PAULO


Foto tirada dia 18/11 por volta das 19hs, na porta da reitoria.
  Hoje, 18/11/10, após quase um ano de inúmeras manifestações, discussões, entrega de abaixo assinado e pressão estudantil, o Conselho Administrativo da PUC SP simplesmente negou todas as demandas apresentadas legitimamente pelos estudantes ao decorrer do semestre.
  Este conselho pra quem não sabe é composto pelo reitor e dois padres que mandam e desmandam na PUC e escondem-se atrás de uma dívida bancária que ninguém até hoje sabe de onde veio!
  Aliás, essa é uma das pautas demandadas pelos estudantes, que pagam valores absurdos e não recebem uma infraestrutura descente, pois apesar das inúmeras notas altas tiradas na avaliação do MEC na instituição, a infraestrutura puquiana tirou a nota mínima!
  Sem contar que a PUC hoje tem uma política de aumento excessivo das mensalidades enquanto terceiriza os serviços de limpeza, segurança entre outros, submetendo os funcionários terceirizados a situações de extrema precariedade e simplesmente aumenta a carga horária de aula dada dos docentes, reduzindo o seu tempo dedicado à pesquisas, o que consequentemente prejudica o ensino oferecido.
  Como pode uma universidade com o histórico da PUC, passar por todo esse processo mercantilista e a maioria se preocupar somente com o nome?
  A luta estudantil é exatamente para manter esse nome reconhecido mundialmente, pela sua qualidade de ensino e pesquisa, e pela sua “democracia”!!!
 A luta estudantil é em defesa de melhores condições de trabalho para todos os funcionários, inclusive pela contratação direta dos hoje terceirizados!!!
  A luta do movimento estudantil é pela contratação de mais docentes, para que se tenha não só a repassagem do conhecimento, mas sim a produção do mesmo com a qualidade de sempre!!!
  A luta estudantil é pela extinção da exclusão social numa universidade que se diz comunitária!!!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

CRIANÇA NÃO É BRINQUEDO DE ADULTO!


Um assunto polemico e de um tabu sem tamanho, o abuso sexual contra crianças e adolescentes gera inúmeras opiniões, as mais diversas possíveis, e foi esse o tema que escolhemos para um seminário apresentado ontem. Como o fruto de tal trabalho foi interessantissimo resolvi postar alguns trechos da parte escrita, antes dessa postagem, postei uma sobre o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, que além de orgulho nacional é referencia mundial, mas que precisa muita luta para funcionar plenamente, agora tentarei resumir o mais claro possível sobre os diferentes tipos de violência sofrida por nossas crianças e nossos adolescentes...

De acordo com a cartilha “Viver sem Violência – Um direito meu, seu e de todas as crianças e adolescentes”! Só em 2007 das 216 famílias atendidas pelo CRAMI[1] onde ocorreu algum tipo de violência contra criança / adolescente, 17% era violência sexual.
Também se faz importante ressaltar que não se trata de um fenômeno encontrado somente nas classes desfavorecidas, tal problema perpassa por todas as classes sociais, deixando graves consequências à vítima, consequências essas que podem se agravar dependendo do nível de vida da vítima.
De acordo com a OMC, o abuso sexual é definido como:
“Abuso sexual infantil é todo envolvimento de uma criança em uma atividade sexual na qual não compreende completamente, já que não está preparada em termos de seu desenvolvimento. Não entendendo a situação, a criança, por conseguinte, torna-se incapaz de informar seu consentimento. São também aqueles atos que violam leis ou tabus sociais em uma determinada sociedade. O abuso sexual infantil é evidenciado pela atividade entre uma criança com um adulto ou entre uma criança com outra criança ou adolescente que pela idade ou nível de desenvolvimento está em uma relação de responsabilidade, confiança ou poder com a criança abusada. É qualquer ato que pretende gratificar ou satisfazer as necessidades sexuais de outra pessoa, incluindo indução ou coerção de uma criança para engajar-se em qualquer atividade sexual ilegal. Pode incluir também práticas com caráter de exploração, como uso de crianças em prostituição, o uso de crianças em atividades e materiais pornográficos, assim como quaisquer outras práticas sexuais.” [2]

Como tal definição é ampla, podemos ainda dividir a violência sexual em:
·         Abuso sexual: entende-se como abuso sexual, quando um adulto satisfaz-se sexualmente utilizando-se de uma criança ou adolescente, podendo haver ou não contato físico sexual entre o adulto e a vítima, pois também é considerado abuso sexual a exibição de filmes e/ou fotografias pornográficas e com a produção de fotos e vídeos em posições pornográficas ou sensuais envolvendo a vítima.

·         Exploração sexual comercial: ocorre quando há pagamento em troca do “trabalho sexual”, antigamente chamado de prostituição infantil, todavia este termo não se é mais utilizado já que a criança e o adolescente não se prostituem, na realidade são explorados sexualmente, tratados como meros objetos sexuais e econômicos.  

O Abuso Sexual ainda se divide em:
·         Sem contato físico: que por sua vez se divide em: Assédio Sexual – trata-se de propostas sexuais feitas por quem exerce uma relação de poder com a vítima, realizando ameaças e/ou chantagens; Abuso Sexual Verbal – quando o abusador fala abertamente sobre sexo com a vítima, porém com o intuito de despertar interesse ou chocar a vítima; Telefonemas obscenos – realizados na maioria dos casos por adultos do gênero masculino, gerando grande constrangimento e ansiedade tanto na vítima quanto na sua família; Exibicionismo – exibição dos órgãos sexuais e/ou masturbação na frente de crianças e adolescentes, com o intuito de chocar as vítimas; Voyeurismo – observar atos e órgãos sexuais da criança e adolescente, em busca de uma satisfação sexual, de forma a deixar a vítima perturbada e assustada.
·         Com contato físico: também é dividido em: Atentado Violento ao Pudor – obrigar à vítima do gênero masculino, utilizando-se de violência ou ameaça a praticar atos libidinosos, como sexo oral, anal, masturbação ou o simples toque no órgão sexual; Estupro: quando ocorre a penetração vaginal sob violência ou ameaça grave; Corrupção: quando um adulto corrompe ou facilita a corrupção de adolescentes entre 14 e 18 anos independentemente do sexo, induzindo-o a prática sexual; Sedução: indução de adolescentes de gênero feminino virgens a pratica de relação sexual, todavia sem ameaça grave ou violência.
A Exploração Sexual Comercial também tem divisões:
  • Pornografia: exposição de atos sexuais ou dos órgãos sexuais de crianças e adolescentes em materiais como filmes/vídeos, revistas, livros e principalmente internet;
  • Troca Sexual: quando crianças e adolescentes praticam sexo com adultos em troca de favores como comida, estadia, proteção ou até mesmo drogas;
  • Turismo Sexual: organização de passeios turísticos a fim de satisfazer sexualmente turistas (estrangeiros ou não) utilizando-se de crianças e adolescentes ou agenciando-os para prestarem serviços sexuais aos turistas na região;
  • Tráfico Sexual: aliciamento, rapto e translado de crianças adolescentes para outros estados ou países, com a promessa de melhoria rápida de vida quando na verdade no destino são obrigadas a entrar no mercado sexual.

Ao contrário do abuso sexual que frequentemente ocorre dentro ou fora do ambiente familiar, sendo na maioria das vezes praticados por pessoas conhecidas (familiares ou amigos muito próximos), considerando logicamente que também é praticada por estranhos, a exploração sexual pode ocorrer tanto nas ruas, nas estradas ou em casas de prostituição e bares, quase sempre sendo agenciados por adultos.
Muito comum é criminalizar as vítimas, principalmente os adolescentes, e mais ainda com relação à exploração Sexual, pois se considera que ele já tem um certo discernimento das coisas e faz porque quer, não se levando em conta a forma de aliciamento utilizada pelo explorador. Pois há o péssimo habito de se olhar para a conseqüência e nunca para o processo que levou a ela, ou seja, nunca se olha pra vida levada pela criança e pelo adolescente que acaba seguindo por tal caminho, isso quando não é ameaçado a permanecer nele.
Deve se ressaltar que sempre há um poder diferencial entre o abusador e o abusado, pois o abusador exerce um domínio sobre o abusado seja de forma violenta, por meio de agressões físicas, verbais e ameaças, ou com promessas de mudanças de condições de vida, como nos casos de adolescentes das periferias que acompanham aliciadores que lhes prometem trabalhos de modelos e quando chegam ao destino são escravizadas sexualmente ou até mesmo por seus aliciadores darem o carinho que não recebem em seus lares.


[1] Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância do ABCD
[2] Organização Mundial da Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION -WHO, 1999):